Nesta postagem vamos trazer a história da principal rival da Monareta, aquela que durante muitos anos foi a líder de vendas no segmento, a Caloi Berlineta. Vamos começar contando a história da Caloi.
A HISTÓRIA DA CALOI
" Tudo começa no Século XIX, no ano de 1898, quando o Italiano Luigi Caloi e seu Cunhado Agenor Poletti, que era um excelente mecânico, desembarcam no Porto de Santos, vindos da Itália."
Algum tempo depois os dois inauguram seu próprio estabelecimento, a Casa Poletti & Caloi, onde seus clientes poderiam alugar, consertar ou reformar bicicletas de corrida, onde participavam de disputas no Clube Atlético Paulistano, em São Paulo.
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Com o negócio em franco desenvolvimento, Luigi conseguiu se tornar representante exclusivo da renomada Fábrica Italiana de bicicletas, a Bianchi, onde deu origem a Bianchi do Brasil. Esta parceria viria a dar bons frutos no futuro, pois a Berlineta nasce justamente da inspiração de um modelo que a Bianchi iria fabricar. Infelizmente, no ano de 1924, Luigi Caloi falece. Neste momento os herdeiros Henrique, Guido e José Pedro assumem e Fundam uma nova Sociedade: Casa Irmãos Caloi. Devido a desentendimentos a Sociedade se desfaz, onde a Empresa agora, sob o comando de Guido, passa a ser conhecida como Casa Luiz Caloi, em homenagem a seu pai Luigi (Luiz é Luigi em português). Com o advento da 2ª Guerra mundial, as industrias do mundo inteiro sofrem para permanecerem ativas, e com a Caloi as coisas não seriam diferentes. Por esta razão Guido encontra dificuldades em adquirir peças de reposição importadas, daí resolve produzir estas peças aqui mesmo, num barracão no bairro do Brooklin, na grande São Paulo. Anos mais tarde, em 1948, a Empresa viria a fundar, de fato, sua Fábrica de bicicletas: Industria e Comércio de Bicicletas Caloi, em 1948. Curiosamente, a Monark iniciava suas atividades em 01/04/1948 e a Caloi em 10/04/1948, onde embora seja fundada dias antes, não podemos considerar que a Monark fosse a mais antiga, visto que a Caloi já atuava desde o século 19 no país. Nascia, assim, a maior rivalidade da industria ciclística do Brasil.
A HISTÓRIA DA BERLINETA
Nos anos 60 um novo conceito de bicicletas desponta no cenário mundial: a bicicleta unissex para adultos de rodas pequenas, que nasce no Reino Unido, em 1962, através da Fábrica Moulton. Na verdade este tipo de bicicleta já existia, mais eram versões menores de bicicletas adultas, diferentes desta, que foi um marco, sobretudo devido ao seu desenho, em forma de “F”. Muitos modelos mundo afora foram desenvolvidos pegando carona neste novo segmento. Daí que surge a Bianchi, antiga parceira da Caloi. Em 1965 a Bianchi apresenta sua bicicleta de rodas pequenas (aro 20″).
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Todavia a Bianchi havia se inspirado em outra bicicleta, também Italiana, a Graziella. Assim como a Moulton, a Graziella, lançada em 1964, também foi um divisor de águas na industria ciclística, cujo desenho foi copiado em todo o mundo.
Diante destas inspirações a Caloi cria sua Berlineta, em 1967, lançando no mesmo ano que a Monark lançava sua Monareta.
O design inovador, além do conceito inédito, fizeram da Berlineta um sucesso instantâneo. A rivalidade com a Monark, que já era grande, ganha contornos ainda maiores, diante da disputa de suas bicicletas que inauguraram o segmento no mesmo ano.
A Berlineta vinha com linhas angulosas, arredondadas, bem acertadas ergonômicamente. Já a Monareta possuia, na 1ª versão, linhas retas bem definidas, bem ao estilo das primeiras Crescent suecas de aros 20″, que viriam a mudar radicalmente à partir da Série Olé 70 (onde ambas as versões, 1ª e 2ª geração, coexistiram). Ambas as bicicletas eram de design extremamente opostos, mas assim mesmo fizeram grande sucesso, com vantagem pequena para a Berlineta, que ampliaria esta diferença à partir de 1973, com sua atualização.
A Berlineta seguiu até o início dos anos 70 sem grandes alterações, salvo mudanças sutis no Cobre corrente (que mudou em 1968) e adesivos. O Sistema de freios ainda eram semelhantes aos demais modelos da época, pois o sistema tipo ferradura – que se tornaria uma marca registrada da marca – só viria em 1977, juntamente com novos aros.
No último ano da primeira geração, em 1972, a Berlineta ganha uma versão comemorativa. Seguindo o exemplo da Monark, que na época sempre adotava para cada ano séries para seus modelos, a Caloi excepcionalmente nesta ocasião cria a série 150, em alusão aos 150 anos de Independência do Brasil. Esta série vinha, além dos adesivos diferenciados, acessórios como a buzina.
1973, ano que a Berlineta sofre sua primeira grande modificação. A segunda geração tem uma importância significativa para o modelo, pois à partir desta atualização a marca consolida sua liderança no segmento, que seria interrompida à partir do final dos anos 70, pela Monareta.
Nesta atualização mudaram o conjunto garfo/guidon, onde agora viria com garfo duplo, com sanfonas plásticas nas extremidades superiores (imitando amortecedores de moto), e o guidon único e o cachimbo dariam lugar a duas peças, que se afixavam nas terminações superiores do garfo, onde além de alterar o modo como se efetuaria a regulagem da direção, tornava o visual da bicicleta rejuvenecido, além de ser o precursor de uma tendência estilística, copiado mais tarde pela Monark, na sua Monareta Kross II, de 1980. Outra mudança foi com relação ao cobre corrente, que seria mudado por uma peça fixada diretamente na coroa, outro ponto alto da Caloi.
Para se ter idéia do peso desta mudança, a Monark Colombiana simplesmente atualizou sua Monareta exatamente como a Berlineta – um clone, por assim dizer.
Em 1977 a Berlineta mais uma vez recebe mudanças: À partir deste ano passa a contar com freios tipo ferradura (side pull), além de novos aros para atender a este novo sistema.
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A mudança foi um sucesso, a Berlineta ganha projeção ainda maior no mercado, muito influenciado pelo excelente trabalho de marketing da Caloi, que explorou todos os meios de comunicação da época em publicidade.
No início dos anos 80 a Caloi sente o peso dos anos da sua Berlineta, onde perdera a liderança do segmento para a Monareta, e resolve atualizar pela terceira vez sua bicicleta. Em 1983 lança a nova Berlineta. Uma mudança marcante, que sem dúvida devolvia a jovialidade a sua outrora campeã.
A mudança mais sensível foi na garupa, onde antes era um retângulo com uma semi circunferência na extremidade, passava agora a ter um visual agressivo, encurtado, com duas sessões que se unem, cujo a haste tubular que se une a base do suporte do eixo traseiro agora vem também com uma sanfona plástica, criando a impressão de existirem amortecedores. Os paralamas de chapa de aço agora dão lugar a peças de plástico, bem semelhantes aos empregados no Ciclomotor Mobylette XR da Caloi, que se destacam pelo apelo esportivo. O cobre corrente passa a ser em duas peças, a fixa sob a coroa e outra que se estende pela lateral, sobre a corrente. Estas mudanças visavam, além de modernizar o modelo, encarar a também modernizada Monareta, atualizada 01 ano antes, além de fazer frente a nova tendência do mercado: As bicicross.
Infelizmente o peso dos anos, assim como a diversificação de mercado, tornaram inevitável o fim da Berlineta. Na ocasião a chegada das Montain bikes, assim como a consolidação das Cross de aro 20″, tiraram seus compradores, tornando inviável sua fabricação. E assim, em 1987, a Caloi deixava de produzir sua Berlineta. Sua rival, a Monareta, iria se despedir 2 anos mais tarde, em 1989. Ambas deixaram uma legião de fãs, que as tornaram uma das bicicletas mais colecionáveis da atualidade.
Curiosidades
A Berlineta, assim como a Monareta, também contava com irmãs menores, como as de aros 14″ desde o início de sua produção.
Outra curiosidade é que, no final dos anos 80, a Berlineta mudava seu sistema de tração: mudou o pé de vela de chaveta pelo sistema peça única – Monobloco – tal qual as Monark.
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